Quem são vocês, velhos, rebeldes, aposentados? Como ousam dizer não à elite que manda no País? Quem são vocês que se levantam bravos E contestam os Três Poderes da República? Com que ousadia saem às ruas, viajam horas e horas, Demonstrando mais energia, mais raça E espírito guerreiro do que os jovens?
Vocês, jovens, já esqueceram, mas somos aqueles que, quando choravam, Cantávamos cansados, mas com força, para fazê-los dormir. Somos aqueles que, na madrugada fria, Cobríamos seus corpos com o melhor cobertor. Somos aqueles que os viram crescer. Quando ficavam doentes, nós adoecíamos também. Sua febre era a nossa febre, Sua dor era a nossa dor. Reclamavam nossa ausência, Mas estávamos trabalhando em horas extras, Para que pudessem estudar, vestir, morar, comer e brincar. Somos aqueles que, muitas vezes, choravam em silêncio, Por não podermos dar tudo o que queriam e mereciam. Ah, quantas vezes gostaríamos de parar e brincar mais Mas não podíamos, tínhamos que trabalhar, trabalhar, trabalhar... Ficávamos de coração nas mãos e sem dormir Quando vocês, ainda adolescentes, saíam para as festas. Vivemos para vocês. Embora saibamos que vocês não viverão para nós, Viverão para os seus filhos. Ensinamos tudo o que vocês quiseram aprender. E hoje, o nosso papo não interessa mais a vocês como no passado. Pode ser saudosismo, mas gostaríamos de poder ver vocês Correrem novamente pela casa, acompanhá-los ao jogo de futebol Ou nas velhas pescarias. Hoje, caminhamos devagar, Podemos até pensar diferente, Mas amamos vocês como vocês amam seus filhos, Não nos digam que esse sentimento É apenas gerado pela saudade de um tempo que não voltará mais. Hoje, discute-se a inteligência da emoção... Só quem ama sabe que esta teoria é correta. A idade nos tempera, nos deixa mais sábios, Fomos forjados com o fogo da natureza, Amamos a vida e não tememos a morte. Temos orgulho de nossa história de lutas – Quem ama faz a guerra se preciso for. Se vamos hoje à batalha, Queremos que vocês nos acompanhem, Pois acreditamos neste País. Paulo Paim (extraído do livreto Estatuto do Idoso, de Paulo Paim, pág. 38-39)
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